quinta-feira, 11 de março de 2010

09/03 (Terça – Feira) - Valinhos

Trabalho doméstico e de cuidados: um debate sobre a sustentabilidade da vida humana, seguida de debate sobre a história da Marcha Mundial das Mulheres e suas lutas.


Os gritos de luta chamando João, José, Zeca e Raimundo tratam de forma bem-humorada de um tema discutido pela Marcha Mundial das Mulheres no primeiro dia de atividades de formação da 3ª Ação Internacional no Brasil, em Valinhos. As caminhantes se dividiram em quatro rodas de conversa para debater o trabalho doméstico e de cuidados, a partir de quatro questões-guia: como você vê o trabalho doméstico e de cuidados? Como essa realidade de apresenta na casa de cada uma? Mudou algo nesta rotina depois que você começou a participar do movimento feminista? Como imagina que encontrará sua casa quando você retornar após o dia 18?
Sônia, pescadora na Bahia, contou que na beira do rio São Francisco a mulher trabalha muito mais que o homem. “Enquanto ela limpa o peixe, prepara comida, cuida de menino, o marido está na rede dormindo”, afirmou a militante. Para ela, o machismo parece vir de nascença: Sônia ajudou a criar nove irmãos e nenhum deles tinha qualquer participação nos trabalhos domésticos. “Tive sete filhos, mas nunca deixei de fazer nada por causa deles nem do marido, porque eu ganhava meu próprio dinheiro.Quando eu me preparava para sair e meu marido reclamava que estava com dor de cabeça, eu dizia logo para ele tomar um comprimido e pronto. Que mais eu posso fazer? Não sou médica!”, gracejou a pescadora.
Neusa, do Rio Grande do Sul, lembrou que as pessoas tendem a naturalizar a responsabilidade das mulheres pelo trabalho doméstico e pelos cuidados com os familiares, sem perceber que essa obrigação é socialmente imposta. Fabiana, do Rio Grande do Norte, concordou e acrescentou que também, de forma quase inconsciente, muitas mulheres reproduzem a divisão sexual do trabalho na criação dos filhos. A mineira Sueli deu um depoimento que reforçou a triste ironia de a opressão sexista estar arraigada nas próprias oprimidas: ela contou que durante a faculdade, mesmo quando já morava só, tinha dificuldade de passear nos fim-de-semana, porque desde pequena aprendeu que sábado era dia de faxina.
“Além da divisão igualitária do trabalho doméstico entre homens e mulheres, nossa luta é também para que haja mais serviços públicos, como creches gratuitas de qualidade. Assim homens e mulheres poderão trabalhar e estudar”, defendeu Iolanda, militante de São Paulo. Ela afirmou ainda que “não existe libertação individual, toda libertação é coletiva”.
As discussões nos grupos sobre trabalho doméstico e de cuidados, de fato, mostraram que a autonomia das mulheres se fortalece quando o processo de sua conquista é coletivo. Genoveva, militante da Marcha no Rio Grande do Norte, por exemplo, enfrentou opressão do marido logo que eles se casaram. “Ele, que se virava só, deixou de fazer qualquer atividade na casa. Mas eu fui trabalhar fora, entrei para o movimento de mulheres e, aos poucos, a postura dele está mudando. Hoje cedo ele já me telefonou para perguntar como está a Marcha, para demonstrar solidariedade”, alegrou-se a militante.
EM VALINHOS FOMOS RECEBIDAS COM BÃO E ROSAS - MUITAS PÉTALAS DE ROSAS FORAM JOGADAS NAS NOSSAS CABEÇAS NA ENTRADA DA CIDADE 
Oito de março de 1857. Cansadas de uma carga horária pesada, um grupo de mulheres operárias têxteis de uma fábrica de Nova Iorque decide entrar em greve. O barulho é grande e aos gritos de protestos ocupam a fábrica. Numa sociedade que na época legitimava a exploração do ser humano por outro ser humano, as mulheres fecham questão e desejam redução das atuais 16 horas de trabalho praticadas para as 10 horas pretendidas.

Estas operárias recebem menos de um terço do salário dos homens e trabalham o mesmo tanto e até mais. Alguém tranca a fábrica e um incêndio inicia-se. Horas mais tarde cerca de 130 mulheres estavam mortas carbonizadas no mais terrível incêndio já ocorrido na Big Apple.
Nos anos seguintes os protestos se seguiram e cada vez ficavam mais estressantes. Em 1903, profissionais liberais norte-americanas criam a Women"s Trade Union League. Esta associação ajudará todas as trabalhadoras a reivindicarem melhores condições de trabalho.
Em 1908, mais de 14 mil mulheres marcham nas ruas de Nova Iorque. Elas decidem reeditar o mesmo protesto das operárias no ano de 1857. Exigiam ainda o direito de voto. Na caminhava gritavam ‘Pão e Rosas’, palavra de ordem onde o pão simbolizava a estabilidade econômica e as rosas uma melhor qualidade de vida.

 http://www.sof.org.br/acao2010

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